terça-feira, 3 de março de 2009

Presidente IDT reconhece benefícios da cannabis para fins terapêuticos


Lisboa, 01 Mai (Lusa) - O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência reconheceu hoje alguns benefícios do uso da canabbis para fins terapêuticos, mas alertou para os efeitos nocivos do consumo das substâncias ilícitas feitas a partir daquela planta, as mais consumidas em Portugal.

João Goulão falava à agência Lusa a propósito da "Marcha Global da Marijuana", uma iniciativa internacional, "apartidária, pacífica, sem fins lucrativos" que vai realizar-se sábado em, pelo menos, 222 cidades do mundo em simultâneo, entre as quais Lisboa, Porto e Coimbra.
A partir da planta Cannabis Sativa fabrica-se, entre outras substâncias ilegais, o haxixe (que resulta da maceração do polén e das flores da planta) e a marijuana, também conhecida no Brasil como maconha.
Segundo os organizadores da Marcha da Marijuana, a iniciativa visa chamar a atenção do Governo, das instituições relacionadas com a questão das drogas e da sociedade civil para "as vantagens da legalização, normalização do cultivo, venda e consumo de cannabis e para a ineficácia e falhanço das políticas proibicionistas na sua missão de resumir o consumo, o tráfico de drogas e o crime associado".
Questionado pela agência Lusa sobre um dos objectivos da marcha de legalização e regulamentação da cannabis para todas as utilizações, o presidente do IDT afirmou que não tem "nenhum resistência de princípio ao uso terapêutico" desta planta.
"Para fins terapêuticos estão identificados alguns potenciais benefícios dos canabinóides, mas também penso que existem alternativas, outro tipo de fármacos, que podem eventualmente acarretar os mesmos benefícios pelo que não me parece indispensável a sua aprovação", ressalvou.
João Goulão lembrou que já esteve disponível no mercado português um fármaco com o princípio activo do cannabis, mas que, "ao que parece, não teve grande utilização".
Segundo o presidente do IDT, a utilidade terapêutica do medicamento era, sobretudo, para contrariar os vómitos causados pelo uso de terapêutica citostática durante o tratamento para o cancro e como um estimulante de apetite.
A substância psicoativa presente na cannabis, e por isso na marijuana e no haxixe, é o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC).
"Tanto quanto sei neste momento não existe nenhum fármaco disponível no mercado português" com o princípio activo da cannabis, frisou João Goulão.
Esta situação foi confirmada à Lusa pelo Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento INFARMED), adiantando que em Dezembro de 1999 foi autorizado um medicamento com Dronabinol (a versão sintética do tetrahidrocanabinol) mas que foi revogado a 28 de Abril de 2005 a pedido do titular.
Uma fonte do INFARMED adiantou à Lusa que actualmente não existem medicamentos autorizados ou pedidos para regulação de um medicamento contendo o tetrahidrocanabinol.
Sobre a legalização do consumo da marijuana, João Goulão adiantou que não faz sentido, argumentando que "o enquadramento legal existente em Portugal, que descriminalizou os consumos, é "adequado" tendo em conta o "desenvolvimento da sociedade portuguesa".
Alertou ainda para os riscos do consumo destas substâncias: "a evidência científica vem demonstrar que a cannabis não é uma substância inócua, pelo contrário envolve riscos sérios".
"Hoje em dia o teor do princípio activo é muito maior do que existia há 10 ou 15 anos, devido às mutações genéticas induzidas nas próprias plantas, e as consequências para a saúde mental e física podem ser muito maiores", sublinhou à Lusa.
O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência lembrou ainda que, a seguir ao álcool, as substâncias feitas a partir da cannabis são as drogas mais consumidas em Portugal.
"Das substâncias ilícitas é a mais consumida em Portugal", sustentou, recordando que "tradicionalmente havia o raciocínio que a cannabis era a porta de entrada para todas as drogas".
"Hoje em dia já não é assim. Há uma percentagem maior de pessoas que se iniciam com outras drogas do que as que se iniciam com cannabis", acrescentou.
Segundo os últimos dados do IDT, as autoridades policiais detiveram 5.425 pessoas em 2006 por ilícitos relacionados com estupefacientes, 44 por cento das quais por alegado tráfico e 56 por cento traficantes-consumidores.
De acordo com o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências, 71 por cento dos alegados infractores detinham apenas uma droga: 47 por cento cannabis, 11 por cento cocaína, 11 por cento heroína e 1 por cento várias outras drogas.
Nas condenações relacionadas só com uma droga, manteve-se em 2006 o predomínio pelo quarto ano consecutivo da cannabis e o aumento das condenações pela posse de cocaína, refere o IDT.
Segundo o instituto, 67 por cento destas condenações estavam relacionadas com a posse de uma só droga: 32 por cento cannabis, 18 por cento cocaína, 16 por cento heroína e 1 por cento várias outras drogas.
HN.

Sem comentários: